Estória de um soneto

Em 1931 desencarnara um amigo do Chico, em Pedro Leopoldo.

Cavalheiro digno, católico muito distinto e pai de família exemplar.

O Médium acompanha o enterro.

Na cidade, da igreja ao cemitério, é longo o percurso.

Um padre presente abeira-se do rapaz e pergunta:

— Então, Chico, dizem que você anda recebendo mensagens do outro mundo…

— É verdade, reverendo. Sinto que alguém me ocupa o braço e se serve de mim para escrever…

— Tome cuidado. Lembre-se de que o Espírito das Trevas tem grande poder para o mal.

— Entretanto, padre, os espíritos que se comunicam somente nos ensinam o bem.

O sacerdote retirou um papel em branco da intimidade de um livro que sobraçava e convidou:

— Bem, Chico, estamos no cemitério, acompanhando um amigo morto… Tente alguma coisa.

Vejamos se há aqui algum espírito desejando escrever.

Chico recebe o papel e concentra-se.

Em poucos instantes, sente o braço tomado pela força espiritual e psicografa a poesia aqui transcrita: 

Adeus

O sino plange em terna suavidade,
No ambiente balsâmico da igreja,
Entre as naves, no altar, em tudo adeja
O perfume dos goivos da saudade.

Geme a viuvez, lamenta-se a orfandade;
E a alma que regressou do exílio beija
A luz que resplandece, que viceja,
Na catedral azul da imensidade…

Adeus, Terra das minhas desventuras…
Adeus, amados meus… – diz nas alturas…
A alma liberta, o azul do céu singrando…

Adeus… – choram as rosas desfolhadas,
Adeus… – clamam as vozes desoladas
De quem ficou no exílio soluçando…

Espírito Auta de Souza, poetisa.

Este soneto foi incorporado ao “Livro Parnaso de Além-Túmulo”.

ÍNDICE

Postagens mais visitadas deste blog

A última ceia

Prece de aceitação / Acceptance prayer

Três almas